quarta-feira, 28 de maio de 2014

Projeto «Consigo, Ler» e a história japonesa de «Momotaro»

Este ano letivo (2013-2014), o Instituto Camões propõe aos professores do EPE (ensino do português no estrangeiro) o projeto de leitura «CONSIGO, LER!» O objetivo, em linhas gerais, é aproximar os alunos da leitura em Português, é aproximar Pais-Alunos-Professores-Comunidade da leitura que tão importante é para o desenvolvimento da criança, do jovem e do adulto!

Foi por isso que hoje recebemos na sala de aula a mãe de um aluno da turma de CM1(4º ano), Erica Matsumoto, que teve a gentileza de aceitar o convite que lhe foi feito para vir contar uma história à turma de CE2/CM1 e a quem volto a agradecer publicamente a sua colaboração.

Podemos assim conhecer todos juntos uma história japonesa, Momotaro, que nos levou até à comunidade japonesa que vive em terras brasileiras e que com a sua cultura enriqueceu, e continua a enriquecer, a cultura brasileira. Foi também uma forma de mostrar aos alunos a natureza multicultural do Brasil, um país cuja língua oficial é o português, mas cuja cultura é muitas culturas ao mesmo tempo (índia, portuguesa, africana, japonesa, alemã, árabe...). A nossa contadora de histórias escolheu e contou a história que a todos agradou. Também preparou um PowerPoint com a história ilustrada que os alunos visionaram com muito agrado. Como a foto tirada não ficou em condições, optou-se por fazer uma montagem das fotos em recordação desta última passagem de um contador de histórias pela nossa sala de aula.

Apresenta-se a seguir uma versão oral e escrita do conto japonês:


Momotaro

                                                                           
                                                                                         
            Era uma vez um velho lenhador e sua esposa. Eles moravam numa aldeia e eram muito tristes e solitários, pois não tinham filhos. Um dia, o velhinho subiu as montanhas para cortar lenha, enquanto sua esposa foi até o rio lavar as roupas sujas.
            Quando estava começando seu trabalho, a velhinha ficou surpresa ao ver um grande pêssego flutuando rio abaixo. Era o maior pêssego que ela tinha visto em toda a sua vida.
            A velhinha tirou a fruta do rio e levou-a para casa, a fim de dividi-la com o marido no jantar. No fim da tarde, logo que o velho voltou para casa, a esposa lhe disse:
            — Olha que pêssego maravilhoso encontrei para nosso jantar!
            O homem concordou que era realmente um pêssego muito bonito e, como estava com fome, sugeriu:
            — Vamos cortá-lo e comê-lo imediatamente.
            A velha buscou uma grande faca na cozinha e se preparou para cortar o pêssego ao meio. Mas, nesse exato momento, ouviu-se uma voz humana que vinha de dentro da fruta:
            — Espere! Não me corte!
            De repente, o pêssego se partiu, e um lindo menino saltou dali de dentro.
            O velho e sua esposa ficaram assustados. Mas o menino os tranquilizou:
            — Não tenham medo. Fui enviado por Deus. Ele viu o quanto vocês estavam solitários, sem nenhuma criança, e por isso enviou-me para ser o filho de vocês.
            O casal ficou muito feliz e adotou a criança, que recebeu o nome Momotaro, que significa Menino do Pêssego, pois ele havia saído de dentro da fruta. O casal amou Momotaro de imediato e passou a criá-lo para que se tornasse um bom garoto.
            Quando Momotaro completou 15 anos, ele disse aos pais:
            — Vocês sempre foram bondosos comigo. Agora que estou crescido, preciso fazer algo para ajudar seu povo. No mar, bem longe daqui, existe um lugar chamado Ilha dos Ogros. Muitos ogros* perversos vivem lá. Eles costumam vir até aqui para fazer coisas ruins, como roubar os tesouros das pessoas ou até mesmo raptá-las. Por isso, quero ir até a ilha enfrentá-los e trazer de volta tudo o que eles roubaram. Por favor, me deixem fazer isso!
            Os pais de Momotaro ficaram surpresos ao ouvir sua decisão, mas também muito orgulhosos pelo fato de ele querer ajudar as outras pessoas.
            Assim, eles auxiliaram o rapaz a se preparar para sua longa jornada até a Ilha dos Ogros. O velho lhe deu uma espada e uma armadura, e a velha senhora preparou-lhe um bom lanche de bolinhos de milho, conhecidos como kibidango. Momotaro, então, começou sua jornada, prometendo aos seus pais que em breve voltaria para casa. Depois de se despedir, seguiu seu longo caminho em direção ao mar.
            Após ter avançado uma boa distância, encontrou um cachorro marrom. O animal rosnou para ele e estava prestes a mordê-lo quando o garoto lhe deu um de seus bolinhos. Ele contou ao cachorro que viajava até a Ilha dos Ogros, para lutar contra eles. Assim que entendeu a missão de Momotaro, o cão lhe disse que o acompanharia e o ajudaria no que fosse preciso.
            O menino e o cachorro marrom prosseguiram caminhando e logo encontraram um macaco. Na mesma hora, o cachorro e o macaco começaram a brigar.
            Momotaro, porém, contou ao macaco sobre seu plano de lutar contra os ogros. Sensibilizado, o macaco perguntou se podia ir também. Momotaro lhe entregou um bolinho e deixou que ele se juntasse à dupla.
            Momotaro, o cachorro marrom e o macaco prosseguiram sua jornada e logo encontraram um faisão.
            O cachorro, o macaco e o faisão estavam prestes a começar uma briga quando o menino contou ao faisão sobre a viagem à Ilha dos Ogros. O faisão perguntou se ele também podia ir com eles. Momotaro lhe deu um bolinho e autorizou sua entrada no grupo.
            Dessa forma, tendo Momotaro como seu líder, estes três bichos que normalmente vivem brigando tornaram-se bons e confiáveis amigos. Eles percorreram um longo caminho até finalmente alcançarem o oceano. Lá, construíram um barco e navegaram mar afora até a Ilha dos Ogros.
            Assim que avistaram a ilha notaram que os ogros tinham uma fortaleza muito resistente. E havia muitos, muitos ogros! Alguns eram vermelhos, outros azuis, e outros pretos.
            Primeiro o faisão voou sobre os muros do forte e começou a bicar as cabeças dos ogros. Os ogros por sua vez, tentaram acertar o faisão com clavas, mas a ave foi muito rápida e se desviou dos golpes.
            Quando os ogros se distraíram, o macaco deslizou até o forte e abriu o portão. Então, Momotaro e o cachorro marrom invadiram a fortaleza.
            A batalha foi terrível! O faisão bicava as cabeças dos ogros malvados, o macaco os feria com suas unhas, o cachorro marrom usava os dentes para mordê-los e Momotaro os cortava com golpes de espada.
            Até que os ogros foram completamente derrotados. Eles se curvaram perante Momotaro e prometeram nunca mais fazer maldades. Depois, entregaram ao garoto todos os tesouros que haviam roubado.
            Os tesouros eram os mais maravilhosos que se podia imaginar, como ouro, prata e corais. Momotaro e seus três amigos carregaram tudo de volta ao barco. Depois, puseram o tesouro em uma carroça e viajaram por todo o Japão devolvendo tudo o que os ogros haviam roubado delas.
            Depois de muito tempo fora de casa, finalmente Momotaro retornou.
            A alegria de seu pai e de sua mãe ao revê-lo era indescritível! Eles se tornaram muito ricos com o restante do tesouro que o menino trouxe e viveram juntos muito, muito felizes.


Nota: Ogro* - Bicho papão dos contos de fadas, monstro que se alimenta de carne humana.
Bibliografia : As histórias preferidas das crianças japonesas – Livro 1 – Florence Sakade e Yoshisuke Kurosaki





A nossa contadora de histórias Erica Matsumoto com os alunos

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